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14.09.2014

2014
Éder Oliveira

Como costuma fazer na cidade em que mora, Belém do Pará, Éder Oliveira realizou para a 31ª Bienal pinturas murais de retratos em grandes proporções. Pode-se afirmar que os retratos são monumentais, em detrimento do uso do termo monumento como algo relativo a eventos e personagens hegemônicos na história. O artista torna monumentais justo aqueles personagens que a dinâmica social estigmatiza: envolvidos em crimes e cujas imagens são estampadas de modo sensacionalista nas páginas policiais de jornais paraenses. Transpostos para os muros de Belém, e agora também de São Paulo, eles se tornam amplamente visíveis, embora ainda anônimos. A despeito de detalhes da sua identidade e do lugar onde são originalmente fotografados – dados dos quais Éder Oliveira abre mão –, a pintura evoca uma reflexão sobre como os direitos civis são desrespeitados socialmente, aqui de modo mais evidente na cobertura fotojornalística.

Chamados corriqueiramente pela imprensa de bandidos ou criminosos, a maior parte desses retratados são caboclos, com traços de índios e negros. O dado demográfico denota, além de problemas éticos nas coberturas policiais, a abordagem racista com que a mídia divulga os problemas de insegurança e violência no Brasil e sua conversão em um dos agentes de discriminação racial no país.

Deslocado para o Pavilhão Ciccillo Matarazzo no Parque Ibirapuera, endereço nobre de São Paulo, a retratística de Éder Oliveira assume novas questões. Nessa metrópole cosmopolita, mas extremamente excludente, o caboclo paraense personifica o outro, aquele que destoa dos padrões socioeconômicos dominantes e, por isso, vive nas margens físicas e cívicas da sociedade, como vivem nordestinos, haitianos, bolivianos e tantos outros em São Paulo. Indiretamente, os murais do artista os tornam todos centros para os quais a atenção do público da 31ª Bienal deve convergir. – AMM

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