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Residência artística: Cartas ao Leitor, de Walid Raad
05.07.2015
Relato explica a pesquisa do artista libanês que gerou o projeto integrante da 31ª Bienal – Obras Selecionadas, em cartaz em Belo Horizonte.

Walid Raad chegou a São Paulo na última semana de janeiro de 2014 para a residência artística que teve como resultado o projeto Cartas ao Leitor (1864, 1877, 1916, 1923). Após apresentação na 31ª Bienal, em 2014, o projeto foi um dos selecionados para a itinerância da exposição em Belo Horizonte, em cartaz até 30 de agosto.

Letters to the Reader (1864, 1877, 1916, 1923) (Cartas ao leitor) de Walid Raad. © Leo Eloy / Fundação Bienal de São Paulo.

Quando desembarcou em São Paulo, a pesquisa do artista já estava bastante avançada, feita com base em buscas na Internet e com a colaboração dos pesquisadores do Arquivo Histórico Wanda Svevo, da Fundação Bienal. Raad quis ver imagens de todas as obras de artistas árabes que participaram de bienais anteriores, assim como a correspondência trocada entre a Bienal e embaixadores, artistas, curadores e instituições árabes.

Apesar de a maioria desses documentos estarem digitalizados, Raad fez questão de passar o pente fino nos originais. Para ele, é importante ter acesso ao arquivo físico, pois quando o documento é digitalizado sempre se perde informação. Perante um original, tudo é importante: a textura do papel, o tipo de letra utilizado, as marcas do tempo.

Walid Raad é artista e professor associado na Cooper Union (Nova York, EUA). Entre seus trabalhos se encontram The Atlas Group, um projeto de quinze anos, entre 1989 e 2004, sobre a história contemporânea do Líbano, e os projetos em curso Scratching on Things I Could Disavow [Pensando em coisas que eu poderia rejeitar] e Sweet Talk: Commissions [Conversa mole: encomendas], Beirute.

No Instituto de Arte Contemporânea, em São Paulo, o artista visitou  a exposição de Amilcar de Castro e depois conversou com a diretora técnica, Marilúcia Bottalo, sobre a sua experiência no arquivo do IAC. De modo geral, Raad se interessa mais pelo que está por detrás, sob, sobre ou ao lado das obras. Não são exatamente elas que o atraem, mas tudo o que envolve a sua exposição e conservação, assim como o modo e o porquê são colecionadas e arquivadas.

Na mostra, o artista fotografou as paredes com a ficha técnica e o título. Não deixou de apreciar as obras e comentar que lhe pareciam interessantes, mas o seu entusiasmo pelo reflexo das pinturas no chão foi bem mais evidente. Comentou despreocupadamente sobre trabalhos que tinha desenvolvido nesse sentido e de como, a partir de determinado momento, as instituições de arte passaram a evitar pavimentos que brilhem ou façam reflexo.

Também fez perguntas sobre a origem do IAC. Quem começou, quem doou as obras, quem mantém a instituição e que interesses têm nisso? Qual é a linha que diferencia um documento de uma obra? É possível criar um arquivo neutro? Na reserva técnica, Raad questionou quem havia desenhado o mobiliário, assim como as caixas e as molduras. Pediu também uma folha timbrada do IAC. Aliás, ele coleciona folhas timbradas das instituições que visita.

Walid Raad acompanha a instalação de sua obra. 22/08/2014. © Pedro Ivo Trasferetti / Fundação Bienal de São Paulo

O artista ainda participou do primeiro módulo do workshop curatorial da 31ª Bienal, Ferramentas para organização cultural. Na ocasião, sob o mote Escrevendo Histórias, Raad dividiu com os participantes suas experiências anteriores e linhas gerais sobre o projeto que apresentaria na Bienal. 

Relato redigido por Célia Barros, palestrante do programa educativo da Fundação Bienal

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