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O Hip Hop, a cidade, a sociedade
01.12.2014
O último Tocar e Dançar Imagens foi com a Casa de Hip Hop de Diadema

O último Tocar e Dançar Imagens, ação que faz parte da Programação Paralela do Educativo Bienal na exposição, foi com a Casa de Hip Hop de Diadema. O grupo, que já participou de outras ações como a série Encontros também do Educativo Bienal, reuniu muita gente curiosa em entender as rimas dos MCs, escutar o som dos DJs e assistir a impressionante performance dos BBoys.

O hip hop é mais que um gênero musical, é uma cultura iniciada durante a década de 1970, nas áreas centrais de comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas da cidade de Nova Iorque, e segue quatro pilares essenciais: o rap, o DJing, a breakdance e o graffiti, esse último que no Tocar e Dançar Imagens foi substituído pelos trabalhos da exposição.

A ação começou na instalação Invenção, do canadense Mark Lewis, que mostra uma série de filmes, quase uma experiência visual, com um olhar atento para a cidade de São Paulo.

“A ideia de fazer nesse espaço é pelo contexto urbano, a intervenção nessa obra de arte tem tudo a ver, pois o hip hop é um movimento urbano, que nasceu nas cidades”, disse o MC e poeta Renato Souza.

O berço do hip hop brasileiro é São Paulo, onde surgiu com força nos anos 1980, dos tradicionais encontros na rua 24 de Maio e no Metrô São Bento, de onde saíram muitos artistas como Thaíde, DJ Hum, Defh Paul, Mc Jack, Racionais MC's, Doctor MC's, Rappin Hood, entre outros.

Os Bboys, dançarinos de break, interagiram com os vídeos e dançaram em frente às imagens, o que arrancou muitas palmas do público que acompanhava a ação.

O segundo trabalho escolhido para o encontro foi o vídeo Apelo, de Clara Ianni e Débora Maria da Silva, que surge da urgência em lidar com a institucionalização da violência no Brasil e a dificuldade em nos relacionar com seu legado. Filmado no Cemitério Dom Bosco no bairro de Perus, na periferia de São Paulo, a obra conecta atos de violência do presente com os do passado por meio de um discurso público. O cemitério foi criado em 1971 pelo governo militar para receber cadáveres de vítimas do regime repressor, em sua maioria desaparecidos, que logo viriam a ser sepultados em vala clandestina comum. A porta-voz do discurso e co-autora da obra, Débora Maria da Silva, teve seu filho assassinado em 2006, vítima das ações conduzidas por esquadrões da morte da polícia militar de São Paulo em resposta aos ataques da organização de encarcerados Primeiro Comando da Capital (PCC). Hoje, Débora lidera o movimento Mães de Maio, formado por mulheres que também perderam os seus filhos devido à violência policial e exigem investigação e justiça.

“Vivemos isso no nosso dia a dia, essa forma de repressão com o jovem pobre, o jovem negro. Quando me falaram para eu rimar com esse vídeo achei que não ia conseguir, mas saiu de uma forma muito natural, pois é um assunto que está na vida de quem mora na periferia”, destacou o MC Renato que fez uma letra especial para a obra, que fala da vida, de números e de valores.



Ele tinha nome
mãe, pai, irmão

Sem nome, identidade
um há menos na cidade
agora só moscas
a dor é um buraco na
maternidade

Não são filhos, nem vida ou
porcos
são números esquecidos
apenas corpos
em covas rasas o que arrasa
com lares e casas
abre ferida que não cicatriza
atormenta e aterroriza
aterrissa e toma posse do
coração

vida com desdém descendo
num caixão
Sem oração
dane-se a alma perdida
Qualquer vala morreu
na bala sem despedida
Os gritos são mudos
não serão ouvidos
Presidentes não ficarão
comovidos
Só os envolvidos
pra sempre vão carregar cruz
De lembrar dos que foram
esquecidos em Perus

Ele tinha nome
mãe, pai, irmão

MC Renato Souza


Com essa letra, que comoveu o público que participava da ação, encerrou essa série de encontros apelidada de Tocar e Dançar Imagens, da Programação Paralela da 31ª bienal.

Veja aqui como foram os outros encontros da série Tocar e Dançar Imagens
Repentistas
Grupo afoxé Obá Inã

Foto: Rodrigo Lins
Texto: Vivian Lobato


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