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Não é sobre sapatos
14.09.2014

2014
Gabriel Mascaro

Para realizar Não é sobre sapatos, Gabriel Mascaro pesquisou imagens feitas durante as manifestações de 2013 em diversas cidades do Brasil. Assim como em outros países, como uma alternativa à imprensa oficial, os manifestantes criaram uma maneira própria de comunicar suas ações em território público, articulando ações via redes sociais e registrando a presença do corpo coletivo nas ruas com suas próprias câmeras. Essa documentação, que circulou amplamente pela internet, além de inaugurar uma certa ruptura na produção e compartilhamento de discurso, também denunciou a violência policial exercitada contra manifestantes.

Mas em vez de usar seus próprios registros ou aqueles realizados por manifestantes, o artista se interessou pelas imagens sob a ótica da polícia, invertendo o narrador do protesto e ao mesmo tempo questionando: “Como pensar o postulado estético, político e autoral das imagens produzidas pelo estado a partir de seus agentes que estariam filmando com o princípio de policiar e fiscalizar a ordem pública e de enquadrar rostos para a criminalização?”. O jogo estabelecido entre duas instâncias – a do Estado e o do cidadão – que se confrontam munidas do mesmo instrumento ou arma – a câmera – revela uma outra forma de apoderamento e dominação, situada no campo da visibilidade e no exercício da representação do outro.

Entre as gravações apresentadas por Mascaro, estão muitas imagens de sapatos – novos elementos para provas criminais, já que muitos manifestantes trocam de roupas durante os protestos, mas não de sapatos. A edição do material constitui uma ferramenta para pensar as potências e as fragilidades do anonimato (ou dos anonymous) nas formas políticas atuais, levando o artista a mais uma questão: “Em tempos de faces anônimas, o que fazer com os pés?”. – LP

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