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Inferno
16.09.2014

2013
Yael Bartana

Yael Bartana filma a inauguração de um templo grandioso, a destruição dele e o culto a seus escombros. O ponto de partida é a construção de uma réplica do Templo de Salomão em São Paulo, pela Igreja Universal do Reino de Deus, com pedras importadas de Israel. Invertendo o caminho tradicional dos peregrinos, a igreja pretende literalmente trazer parte da Terra Santa para a capital paulista, como uma forma de recuperar a fé na vida das grandes cidades caracterizadas por sua secularidade.

O primeiro Templo foi construído por Salomão em Jerusalém e destruído em 584 a.C. O segundo, do qual restou o Muro das Lamentações, foi erguido no mesmo local em 64 d.C. e destruído também em seguida. Em visita ao canteiro de obras do que seria o terceiro Templo de Salomão – desta vez em São Paulo –, Bartana não pôde enxergar outro futuro possível a não ser a repetição profética do passado, isto é, sua destruição. No que chama de uma “pré-encenação”, a artista destaca, entre o esquecimento e a celebração de um passado fantasiado, como a história é escrita e como as religiões são fundadas.

O crescimento recente das religiões evangélicas e neopentecostais no Brasil desencadeou manifestações religiosas híbridas, nas quais se mesclam referências ao judaísmo e ao catolicismo, e cada igreja compete para provar sua maior proximidade com uma matriz original. A construção de um templo bíblico – como tentativa de voltar a um tempo bíblico – é uma das estratégias da indústria da fé na luta por capital simbólico.

Interessada em registrar os rituais que organizam e orientam as nossas ações cotidianas, Bartana já lançou mão da ficção para criar novos rituais, fundar movimentos políticos e criar narrativas nacionais, sugerindo que a arte pode desenhar possíveis futuros. Em Inferno, é a criação de um passado mítico que anuncia ruínas por vir. – BS

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