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Arqueologia marinha
17.09.2014

2014
El Hadji Sy

Da ilha de Gorée, ao largo da costa de Dakar, até Recife, no litoral nordestino do Brasil, são pouco mais de 3.170 quilômetros, distância considerada pequena pelos padrões atuais. Isso, porém, não se traduz em facilidade para viajar, significativa proximidade cultural ou transações econômicas relevantes. Em doloroso contraste, o que ocorreu ao longo dos séculos 17 e 18 foi a passagem pela ilha de homens e mulheres forçados à escravidão, a caminho de atravessar o Atlântico.

Essa viagem involuntária, da qual poucos sobreviveriam, não só formou grande parte da história cultural e política do Brasil e de outros países da América, como também resultou em um oceano cheio de corpos que, se prestássemos suficiente atenção, talvez conseguíssemos ver e sentir. 

Tal imagem é a base de Archéologie marine [Arqueologia marinha], a contribuição de El Hadji Sy para a 31ª Bienal: um corredor delimitado em um dos lados por um caminho oceânico suspenso do teto e composto desses corpos, alinhados em paralelo com um enorme baobá que, como um polvo gigante com enormes tentáculos-galhos, junta esses corpos ao redor de si e retém suas memórias.

Em seu interior, o corredor traga os corpos dos visitantes, que ficam em parte visíveis para os que se aproximam, com suas pernas e braços estirados para baixo e para cima da trilha oceânica. Da mesma maneira que nas obras anteriores de El Sy, a pintura em Archéologie marine é apenas parte da história, um elemento que se vale tanto de materiais (sacos, redes, pigmentos) que têm sua própria história como de configurações performáticas e colaborativas que dão a seus trabalhos uma vida que evolui deles mesmos. O envolvimento das pessoas com essa visão dupla lhes permitirá viver em seus próprios corpos a lembrança de uma história que não é planejada como uma homenagem ou uma lamentação, mas como o ponto de partida para narrar um futuro possível, em que velhas relações são reconstruídas e novas são criadas. – PL

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