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Apelo
17.09.2014

2014
Clara Ianni e Débora Maria da Silva

Apelo surge da urgência em lidar com a institucionalização da violência no Brasil – consolidada ao longo da história do país, desde a invasão européia no início do séc. 16 – e a dificuldade em nos relacionar com seu legado. Filmado no Cemitério Dom Bosco no bairro de Perus, na periferia de São Paulo, onde a paisagem urbana e campestre se encontram, a obra conecta atos de violência do presente com os do passado por meio de um discurso público. O cemitério foi criado em 1971 pelo governo militar (1964-1985) para receber cadáveres de vítimas do regime repressor, em sua maioria desaparecidos, que logo viriam a ser sepultados em vala clandestina comum. A porta-voz do discurso e co-autora da obra, Débora Maria da Silva, teve seu filho assassinado em 2006, vítima das ações conduzidas por esquadrões da morte da polícia militar de São Paulo – uma das mais letais do mundo – em resposta aos ataques da organização de encarcerados Primeiro Comando da Capital (PCC). Hoje, Débora lidera o movimento Ma?es de Maio, formado por mulheres que também perderam os seus filhos devido à violência policial e exigem investigação e justiça.

Como apelo, ou convocação aos vivos para recordar os mortos, o discurso clama pelo direito ao luto e à memória coletiva, confrontando o esquecimento forçado, sistematicamente conduzido pelo Estado em articulação com setores da sociedade. Busca com isso resgatar essas histórias apagadas, que desaparecem tão violentamente quanto indivíduos ou populações assassinadas. Pois a não existência da memória e a consequente impossibilidade de lidar com um trauma social nos condena à repetição dos mesmos atos de violência no presente, ameaçado pelos fantasmas da história. – LP

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