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Professores conversam sobre quando vira arte
18.02.2014
Quando vira arte? foi o assunto que conduziu o Encontro de Formação em Arte Contemporânea, em Caeiras, região metropolitana de São Paulo.

O relógio marcava 14 horas e o sol quente, típico de um dia de verão, não dava trégua. Aos poucos o auditório do NEC - Núcleo Educacional de Caieiras, região metropolitana de São Paulo, se enchia de professores da rede municipal. Com leques improvisados e munidos de garrafinhas de água, eles conversavam, e muito animados esperavam o início do encontro.

“Quando vira arte?” foi o assunto da tarde e a primeira pergunta da palestrante do Educativo Elaine Fontana, que conduziu esse Encontro de Formação em Arte Contemporânea, ação em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, através do ProAC, e com a Secretaria de Educação da cidade de Caieiras.

Para balizar qual ponto seria tratado durante a formação, até porque os professores não eram específicos da área de artes plásticas, a palestrante propôs discutir arte em sua amplitude de significações, a Bienal como uma abordagem do sistema da arte, considerando que existem outras manifestações artísticas que levaríamos em conta durante o curso.



Fontana inicia o encontro perguntando: “Você conhece alguém que realiza um trabalho de arte que você admira?” Muitas mãos se levantam. Vocês gostam de um artista em especial? Uma mão se levanta. Como continuidade da conversa, a palestrante exibe o vídeo Autofocus, 2003 do artista mexicano Fernando Ortega, no qual mostra de uma forma bem pausada uma criança dentro de um carro cruzando olhares com uma ambulante no farol.  

Após o vídeo, Fontana disparou: “O que tem de arte no vídeo de Fernando Ortega? Por que vocês acham que isso é arte? Vocês gostaram?”



“Pela expressão dos olhos. A partir do momento que a criança vê o ambulante o olhar dela mudou”, disse Viviane Dias Souza e Souza, professora presente no encontro.

Reginaldo de Queiroz, que prestava atenção na fala da colega, emendou: “Seria uma forma de mostrar um pouco da realidade social? Uma forma poética de mostrar um problema do país?”

Para aproveitar o gancho da discussão, a palestrante também fez outra pergunta para os participantes: “Como vocês entendem que o artista fez uma intervenção no cotidiano por esse vídeo? Fernando Ortega é um artista jovem que está procurando falar do agora.”

De acordo com Fontana, dos anos 60 para cá, alguns artistas passaram a ser mais conceituais e tratar de questões mais filosóficas, de âmbitos sociais e políticos que acontecem na contemporaneidade.



“Relacionando com a área de vocês, como uma decisão artística ou de cunho mais poético pode inserir conteúdos nas salas de aula?”, indagou a palestrante, e convidou os professores para vivenciarem a ação poética Por que guardar?

Ao chegarem ao auditório todos receberam um saquinho de papel. A ideia da ação poética era que eles escrevessem em um papel algo de si que gostariam de guardar no outro, e que quando caminhassem pelo espaço, guardassem esse desejo no saquinho do colega, e por fim compartilhassem e se surpreendessem com o que haviam recebido do outro.

“Algumas perguntas para vocês pensarem enquanto a ação poética acontece: O que deseja guardar em mim? Por que guardar? O que guardar? E caminhando pelo espaço quando o olhar cruzar com o do outro é esse o momento de guardar”, destacou Fontana.



Após a realização e conversa sobre a ação poética, a palestrante disse: “o que vocês demonstraram na experiência como um todo, denota o estado de uma experiência estética, em si. Uma ação lúdica que acontece e não fala sobre o trabalho do artista e não necessariamente de sua biografia”.



Fontana também menciona a Arte contemporânea como possibilidade de leitura possível para os professores, já que se trata de questões existentes em seu tempo, no tempo em que vivemos hoje. E vivenciar e refletir esses estados da arte nos permite propor de forma mais apropriada aos nossos alunos.

Segundo a professora Diana Santos essa forma mais prática e poética a aproximou da arte contemporânea, que antes era encarada como um território desconhecido: “Muito interessante essa preocupação de como vamos passar esses conteúdos para os alunos, se nós mesmos não temos entendimento e propriedade para falar de arte. Eu não entendo de arte e procuro participar de todas as formações que consigo, e essa forma poética bem prática me fez sentir mais próxima desse universo”, revelou.

Quem diz o que é arte?

“Nós!”, disse Fontana. “O que vê o público? O que vê o artista? Qual é o contexto? Essas questões foram discutidas entre os professores e possibilitou que eles refletissem sobre quem legitima a obra de arte, o que pode ser chamado de arte e não está legitimado, o contexto histórico que configura uma obra de arte e a história da arte como percurso teórico para orientar pesquisadores, apreciadores e afins.

A fim de conversar sobre as ferramentas usadas nessa área para a aproximação com obras de arte, Fontana reuniu uma seleção de obras e fez uma leitura de imagens com os participantes. “Esse mecanismo pode ser bom quando estamos de frente para uma obra e não sabemos por onde começar a interpretá-la. Podemos buscar sempre novos caminhos de leitura”, completou.



Para fechar a palestrante também apresentou o conceito de Leitura de Imagens, do pesquisador norte-americano Robert William Ott, que reuniu em Image Watching cinco itens importantes: descrevendo, analisando, interpretando, fundamentando e revelando a obra, que também pode ser questionado.

“Esse é apenas um tipo de abordagem sobre Leitura de Imagens salientando não ser ferramenta indispensável, mas pode ser um recurso para uma aproximação com obras que não temos muita familiaridade”. Foi uma conversa que propôs discutir o sistema da arte e suas influências sobre a atuação de professores, mas também o quanto a experiência estética acontece para cada um de forma particular e que precisamos dar ouvido a vários tipos de manifestações artísticas.



“Foi bacana mostrar as obras e esse recurso da leitura de imagens, que pode me ajudar bastante com os alunos. Eu gostei muito dessa forma de entendimento, desse outro olhar e de toda a conversa”, comentou a professora da rede municipal de Caieiras Vanessa Teófilo.

Texto: Vivian Lobato
Foto: Sattva Horaci

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